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DESABAFO: a inconveniência do cérebro de uma escritora
Aqui não tem sossego.
É simples: sua mente não descansa.
Durante momentos cotidianos, enquanto conversa com alguém ou assiste a um filme ou escuta uma música no rádio do carro, sua mente nunca para de trabalhar à procura de novas ideias e desenvolvimento para essas ideias. Sem cessar.
Ideias te acertam na cabeça antes de dormir e você pensa “Ah, tá tarde, amanhã vou lembrar e escrever isso”. Spoiler: você não lembra e, quando lembra, não fica tão bom como no instante em que teve a ideia. Então você se obriga a anotar tudo, o máximo possível, sempre, não importa o horário. É isso ou ficar repetindo frases na cabeça até memorizar (o que, vamos combinar, é um passo mais perto da completa loucura).
Você simplesmente precisa abrir o bloco de notas do celular (porque hoje em dia é raro carregar um caderninho para onde quer que a gente vá, né) e anotar o nome esquisitíssimo e perfeito para aquele personagem que até então só tinha rosto e função. Você sabe que quando um personagem ganha nome, ele ganha alma, então é uma escolha importante e não importa muito se seus amigos ou familiares de olharem estranho por causa disso.
Não só nomes, você anota ideias de enredos ou de cenas muito específicas que, quando lê mais tarde, te fazem pensar uma dessas duas coisas: “o que eu tava pensando quando escrevi essa atrocidade aqui?” ou “que bom que anotei isso, finalmente vou desenvolver essa ideia brilhante”.
Você autocorrige seu português. O tempo todo. E depois corrige os outros. Mentalmente, claro, porque quem é que te aguentaria corrigindo em voz alta?
Você briga com você alternando entre picos de autossabotagem e egocentrismo. Ao mesmo tempo em que você duvida de que alguém vá querer ler as porcarias imprestáveis que você escreve, você acha que ninguém mais na história da humanidade seria capaz de escrever algo tão bom com tamanha maestria.
Na vida real, em conversas reais com amigos e parentes, você odeia falar sobre os seus próprios livros. Morre cada vez que alguém pergunta sobre o assunto. Mas fica em desespero para que todo mundo fale, compre, leia seu trabalho (porque, afinal, você tem contas para pagar, né).
Você sente que vive mais num mundo imaterial, das ideias, do sonhar acordado, da imaginação, do que no mundo real e palpável. E isso te faz trocar interações sociais e companhia de pessoas reais pelos seus rascunhos e seus personagens. Às vezes parece que a parte mais interessante da sua vida é a que acontece enquanto você está escrevendo.
Bastante simples, né? Bem de boa, bem tranquilo. É escritor/a e se identificou? Poxa, que pena, digo, que bacana! Estamos no mesmo barco insano e é um prazer saber que não estou sozinha nessa loucura.