- Francamente escritora
- Posts
- DICA DE ESCRITA: você precisa fisgar seu leitor na primeira frase
DICA DE ESCRITA: você precisa fisgar seu leitor na primeira frase
Prepare uma isca saborosa e seja paciente!
A maneira como um livro começa é muito importante, especialmente em tempos em que cativar a atenção do público por mais do que alguns segundos é um feito difícil. O leitor não sabe quase nada a respeito da história, não tem vínculo emocional com os personagens e com certeza tem uma pilha de outros livros esperando pela atenção dele (e muito provavelmente o TikTok também). Então como chamar a atenção logo de cara?
Aqui vão algumas dicas do que evitar e sugestões para inspirar. Não estamos estabelecendo leis marciais nem um manual de “certo x errado”, então trate minhas palavras como o que elas são: conselhos. E espero que te ajudem.
Não comece uma história com o personagem acordando. Ok, não é errado nem problemático, mas já foi feito tantas vezes que dificilmente vai fazer saltar os olhos do leitor. Caso seja imprescindível para o andamento da história, talvez você possa optar por inserir uma pitada de algo inusitado à ação de despertar. Exemplo:
“Eu estava despencando abismo abaixo com nada além de lágrimas inundando meus olhos e um medo de gelar os ossos paralisando todo o meu corpo quando acordei na minha própria cama, coberto de suor.”
Vê como é diferente de “Acordei na minha cama após sonhar que estava caindo dentro do abismo”? O leitor vai querer saber mais sobre o sonho que o personagem estava tendo e o motivo de ele achar que era real. Um gancho simples, mas que funciona.
Não jogue longas explicações e informações na cara do leitor. Vai com calma. Apresente seu mundo devagar, com detalhes sutis, naturalidade, como se estivesse recebendo um visitante dentro da sua casa. Você não sai tagarelando sobre os detalhes da pia do banheiro ou sobre a quantidade de portas do seu guarda-roupa quando recebe visitas, não é? Com o leitor é igual: seja um bom anfitrião e conduza seu hóspede aos poucos para dentro do seu universo.
“Julia atravessou o salão de baile tendo como costumeira companhia somente o som de suas pisadas no mármore frio e o reflexo dourado acompanhando cada passo da garota”. O que entendemos disso? A personagem é solitária, vive num espaço físico luxuoso mas frio por falta da presença de outras pessoas, e está acostumada a ter o próprio reflexo como única companhia. É diferente de dizer “Julia é uma garota, é solitária e passa o tempo sozinha em sua casa grande e luxuosa”.
Não faça descrições sobre os personagens como se listasse uma lista de compras. Seu leitor quer muito saber como seu personagem se parece, como é o caráter dele e do que ele gosta e é essencial que você conte tudo isso para criar um vínculo leitor-personagem. Mas não conte, mostre.
“Joguei minhas pernas longas para fora da cama e, ao me levantar de uma só vez, quase bati a cabeça no teto.” É uma maneira de dizer que o personagem é alto e tem pernas compridas sem dizer “Eu sou alto e tenho pernas compridas”. Percebe a diferença? Conduza o leitor a enxergar e compreender o personagem em meio às ações dele.
São dicas simples, mas espero que ajudem. É importante levar em conta o gênero escrito, o contexto e o público-alvo também, portanto, leia e aprenda de grandes autores. Escrita não é só dom, é estratégia e técnica. Melhor escreve quem melhor domina as ferramentas da língua e consegue colocar no papel o que está na mente, da maneira mais certeira possível. Boa sorte!